Atualmente Rubens Barrichello é um dos pilotos principais pilotos do automobilismo nacional e um dos mais reconhecidos internacionalmente. Mas como Rubinho se tornou tão famoso? E por que mesmo assim ele é um piloto mal-entendido por muitos? Esta matéria especial responderá essas e outras questões!
Nascido em São Paulo, no dia 23 de maio de 1972, filho de Rubens Barrichello Senior e Idely Gonçalves, Rubens Gonçalves Barrichello, ou Rubinho, como é conhecido carinhosamente no Brasil, provém de uma família apaixonada por automobilismo. O tio materno, Dárcio, possui uma equipe de Fórmula 3 Sul-Americana, e alguns de seus primos são envolvidos no mundo do kart. Rubinho é o terceiro “Rubens” de sua família e divide o aniversário com o pai.
Aos seis anos, ganhou de presente do avô materno um kart, mas para convencer o pai a deixá-lo seguir a carreira, teria que conseguir boas notas no colégio. Barrichello Senior ficou impressionado com os resultados do filho nas primeiras corridas oficiais: um terceiro lugar na primeira, um segundo na segunda e uma vitória na terceira, e passou a apoiá-lo. Rubinho credita seus sucessos a seu pai.
A glória de Barrichello chegou depressa. Em seus oito anos de kart, foi 5 vezes campeão brasileiro e paulista e 3 vezes vice. Em 1986, foi campeão sul-americano e nono no Campeonato Mundial de 1987. Essa última competição lhe deu o privilégio de ser apadrinhado por ninguém menos que Ayrton Senna. Em 1989, Rubens ingressou na Fórmula Ford, em um período de muitas dificuldades: o piloto não falava outra língua além do português e teve dificuldades financeiras. Nesse ano cheio de aprendizados, ele obteve o terceiro lugar no campeonato.
Em 1990, o sonho de Rubinho em se tornar piloto de Fórmula 1 o obrigou seguir para a Europa. Participou do Campeonato Europeu de Fórmula Opel, na Equipe Draco. Como não tinha licença para dirigir, aproveitou que tinha o mesmo nome e aniversário do pai para competir com a carteira dele. Essa experiência lhe trouxe o prazer de ser campeão em seu primeiro ano e de aprender a língua italiana. Logo, os europeus despertaram interesse em conhecer o jovem prodígio brasileiro.
Em 1991, deixou a Itália para competir na Fórmula 3 Inglesa pela equipe West Surrey Racing. Com isso, vieram mais sucessos: além de aprender inglês, foi campeão em seu ano de estreia e quebrou o recorde de mais jovem campeão da categoria, sendo ultrapassado apenas por Nelson Piquet Jr. (conhecido como Nelsinho) em 2004, em sua segunda temporada. Resta então para Rubinho o recorde de mais jovem estreante a ser campeão da Fórmula 3 Inglesa.
No ano seguinte, foi convidado a disputar o Campeonato Europeu de Fórmula 3000, pela equipe IL Barone Rampante. Numa época de muitas dificuldades com a competitividade e confiabilidade do carro, Rubinho conseguiu seus dois primeiros pontos no Grande Prêmio do Japão, em 24 de outubro de 1992, alcançando seu objetivo de pontuação. Em janeiro daquele ano, seu sonho se tornou realidade: assinou um contrato com a equipe Jordan para correr na Fórmula 1.
Sua estreia na categoria máxima do automobilismo mundial foi no Grande Prêmio da África do Sul, no dia 14 de março de 1993. Largou em 14º, mas foi forçado a abandonar devido à quebra do carro. Isso não abalou Rubens, pois sabia que era apenas o começo de uma grande história. No ano seguinte, em sua 18º corrida, no Grande Prêmio do Pacífico (realizado no Japão), Rubinho conquistou seu primeiro pódio com um terceiro lugar. Mas a maior alegria naquele dia foi ver o orgulho de seu padrinho Senna ao cumprimentá-lo. Esta prova foi vencida por Michael Schumacher e o segundo lugar foi conquistado por Gerhard Berger.
Infelizmente, quando 1994 parecida ser um ano emocionante, trágicos eventos marcaram a temporada.
No Grande Prêmio de San Marino (realizado em Ímola, na Itália), etapa seguinte à de seu primeiro pódio, Rubinho com sua modesta Jordan, era o vice-líder do campeonato, atrás de Schumacher, Benetton. A alegria durou muito pouco, pois ele sofreu um grave acidente no primeiro treino classificatório e teve várias fraturas.
Ele afirmou anos mais tarde que não se lembra nada do momento do ocorrido, mas se lembra que Ayrton Senna estava a seu lado quando ele recuperou os sentidos e que essa lembrança é mais forte que a do próprio acidente.
Assistindo a corrida em casa, na Inglaterra, abalado com a morte do austríaco Roland Ratzenberger no sábado, Barrichello passou pelo maior trauma de sua vida: a morte de seu mentor e guia, Ayrton Senna da Silva. A recuperação teve de ser rápida devido ao campeonato, embora não tenha sido fácil. Rubinho terminou o ano em sexto, com 19 pontos.
A morte de Ayrton trouxe um estado de luto para os torcedores brasileiros, o que criou uma enorme pressão injusta em cima de Rubens para dar continuidade ao nome do país na Fórmula 1. Barrichello conseguiu alguns resultados expressivos desde o trágico dia em Ímola, como a primeira pole na Bélgica em 1994 e o segundo lugar no Canadá em 1995.
Em 2013, foram revelados documentos que delatam o interesse da McLaren pelo brasileiro ainda em 1994. Nesse ano, às vésperas do GP do Canadá, Rubens foi pauta de uma reunião entre os representantes da Philip Morris (dona da Marlboro, importante patrocinadora da equipe) e Ron Dennis, CEO da McLaren, sobre sua contratação para 1995. A rescisão de contrato de Rubinho era estimada em US$ 3 milhões e o time não dava garantias de que ele seria piloto titular, o que levou Barrichello a desistir das negociações. No ano seguinte, a Philip Morris visava aumentar sua participação na Ferrari e o indicou como parceiro do alemão Michael Schumacher, mas a escuderia italiana deu prioridade ao norte-irlandês Eddie Irvine. Ainda em 1994, a Benetton mostrava interesse em contratá-lo para correr ao lado de Schumacher, mas o alto custo impediu a Jordan de liberá-lo.
Durante o campeonato de 1996, o nome dele foi cogitado por várias equipes grandes, como a Williams e a Benetton, mas no fim das contas, os times grandes foram definindo seus pilotos e ele concluiu que a Stewart, seria sua melhor opção no momento. Stewart estrearia na Fórmula 1 em 1997 e Rubinho quis fazer parte deste projeto, assinando contrato, portanto, com o time inglês.
O ano de 1997 foi também muito especial para Rubinho, pois foi neste ano, em 24 de fevereiro, que ele se casou com Silvana Giaffone, o amor de sua vida. “Sem dúvida, a Silvana teve um papel importantíssimo do decorrer da minha carreira. Ela me ajudou a lidar com todas as coisas boas e as más de ser um piloto de Fórmula 1 e sou muito grato a Deus por sua existência”, declara Rubinho.
Em maio, no GP de Mônaco conseguiu um espantoso 2º lugar em Mônaco “com um carro que quebrou 14 vezes em 17 provas da temporada”.
Em 1998, o carro estava ainda pior. Barrichello apenas conseguiu terminar duas corridas, ambas em 5º lugar.
Em 1999, foi um dos melhores da carreira de Rubinho. Com um carro muito mais equilibrado, ele foi considerado um dos melhores pilotos da temporada.
Mesmo com um equipamento inferior a McLaren, Ferrari e Jordan, conquistou três pódios com os terceiros lugares em San Marino, França e Europa (no circuito de Nürburgring, Alemanha). No GP da França largou na pole position, liderou boa parte da corrida debaixo de chuva. Essa e outras façanhas lhe rendeu um convite da Ferrari. Assim, Barrichello deixou a Stewart no fim de 1999 para correr pela Ferrari a partir de 2000.
O ano de 2000 veio com um bom currículo para sua carreira: 4 terceiros lugares (Espanha, França, Áustria e Malásia), 4 segundos lugares (Austrália, Mônaco, Canadá e Estados Unidos) e sua primeira vitória, na Alemanha, no dia 30 de julho.
Sua primeira vitória não poderia ser de forma tão especial. Rubinho largou em 18º. Foi ultrapassando um à um. Ao final da corrida, começou a chover e todos os pilotos à sua frente entrou nos boxes para a troca de pneus de chuva. Rubens por lado decidiu desobedecer a ordem de equipe para trocar os pneus do carro e assim, Rubens corria com pneus de pista seca debaixo de chuva e relembrava os sacrifícios de sua amada família para que tudo aquilo fosse possível. Sem dúvida foi uma vitória heroica!
Embora tenha trazido grandes momentos para Rubens, os melhores de seu tempo na Fórmula 1, a política da Ferrari gerou diversas polêmicas.
Claramente, Michael Schumacher era o primeiro piloto e recebia os favorecimentos da equipe. Com isso, em diversas ocasiões, Rubens era orientado a ceder sua posição para o alemão e facilitar sua disputa pelo título.
Em 2002, no Grande Prêmio da Áustria, essa situação ficou mais clara, pois Jean Todt, na época chefe de equipe da Ferrari e hoje presidente da FIA, emitiu a ordem a Rubens mesmo que Michael não precisasse de mais pontos para o campeonato. Barrichello liderava a prova com folga, mas diminuiu o ritmo para a vitória do seu companheiro que, constrangido pelas vaias da plateia furiosa, chamou Rubinho ao pódio e lhe entregou o troféu de primeiro lugar, garantindo uma multa à Ferrari pela quebra do protocolo.
O brasileiro, que foi cumprimentado como vencedor pelos outros pilotos, relata que recebeu uma ameaça pelo rádio que poderia encerrar sua carreira, dizendo: “Foram oito voltas de guerra. É muito raro eu perder a paciência, mas eu estava gritando no rádio. Continuei indo até o final, dizendo que não o deixaria passar. Foi quando eles disseram algo a respeito de uma coisa muito mais ampla. Não era em relação ao contrato. Não posso revelar o que eles disseram, mas foi uma forma de ameaça que me fez repensar minha vida, porque a grande alegria para mim era pilotar”.
Em sua época na Ferrari, nasceram seus dois filhos: Eduardo, em 23 de setembro de 2001, e Fernando, em 12 de setembro de 2005.
Em 2006, após 6 anos pela equipe italiana, conquistando 2 vice-campeonatos (2002 e 2004), 9 vitórias, 25 segundos lugares, 21 terceiros lugares, 12 poles e 5 campeonatos de construtores, Rubinho deixou a Ferrari e entrou para a Honda. O time japonês, em que era companheiro e amigo do inglês Jenson Button, marcou um grande contraste com os anos ferraristas. Em seu primeiro ano, marcou 30 pontos, ficando em sétimo no campeonato, enquanto que não pôde marcar nenhum em 2007 e teve apenas 11 em 2008, ficando com o 14º lugar. Com uma crise financeira, a Honda deixou a Fórmula 1 e a equipe foi comprada por Ross Brawn, criando o time Brawn GP, por onde Barrichello e Button teriam uma chance de correr em 2009.
Em seu primeiro ano na Brawn, Rubens obteve duas vitórias, nos Grandes Prêmios da Europa (realizado em Valencia, Espanha) e da Itália, 3 segundos lugares (Austrália, Espanha e Mônaco) e um terceiro lugar na Grã-Bretanha, alcançando o terceiro lugar no campeonato, vencido pelo companheiro Jenson. A Brawn foi campeã entre as construtoras. Essa foi a última vez que ele teve chances de lutar pelo título mundial e no GP do Brasil, ele fez sua última pole-position.
Nesse ano também, o carro de Rubens se envolveu em um acidente, quando uma mola se desprendeu e acertou o crânio de Felipe Massa, no treino classificatório do GP da Hungria. Nessa corrida, Rubens chegou em décimo, e Felipe só voltou a correr em 2010, no GP do Bahrein.
Em 2010, seguiu seu sonho de correr pela badalada Williams. Entretanto, o carro não demonstrou a competitividade esperada como nos anos de Nelson Piquet e Ayrton Senna. Conseguiu 47 pontos e um décimo lugar no campeonato daquele ano e 4 dos 5 pontos que a equipe teria em 2011, seu último ano de Fórmula 1.
Em seus 19 anos na modalidade suprema do automobilismo, Rubinho quebrou três recordes: maior velocidade média em uma volta (260.395 km/h, GP da Itália de 2004), piloto com mais entradas em Grandes Prêmios (326, quebrando no 258º, no GP da Turquia de 2008) e piloto com mais largadas em Grandes Prêmios (322, quebrando no 257º, no GP da França de 2008).
Em 2012, passou a competir na Fórmula Indy pela equipe KV Racing Technology. Ficou em 12º lugar no campeonato. Na prova das 500 Milhas de Indianápolis, largou em 10º e chegou em 11º.
Naquele ano, ingressou na Stock Car Brasil pela Medley Full Time como um piloto convidado da Peugeot. Em 2013, passou a participar como piloto oficial da Full Time Sports, obtendo o 8º lugar no ranking.
No ano de 2014, foi campeão da categoria, com 234 pontos. Nos dois anos seguintes, foi quarto e segundo lugar. Vale ressaltar que em 2015, Rubens participou de uma corrida no United SportsCar Championship, e de duas no WeatherTech SportsCar Championship de 2016.
Em 2017, além da Stock Car Brasil, participou das 24 Horas de Le Mans, na Racing Team Nederland, ao lado dos holandeses Jan Lammers e Frits van Eerd.
Nota-se que esta equipe possui os mesmos patrocinadores que Max Verstappen, filho de Jos, que foi companheiro de Barrichello na Stewart. Rubinho brincou com Max, “convidando-o” para correr com eles e o jovem “aceitou” se juntar ao time quando estiver mais velho.
A história de Rubens Barrichello mostra que, por trás do piloto criticado pela imprensa brasileira e severamente por muitos torcedores, o que gerou diversos memes e charges, existe um homem talentoso que dá tudo o que pode pelas suas equipes.
Mesmo que não tenha conseguido os resultados de Senna, Fittipaldi ou Piquet, Rubens possui bons números em sua carreira: 68 pódios, 2 vice-campeonatos, 11 vitórias em 19 anos de F1 e mesmo em 2017 ele continua entre os pilotos que mais marcaram pontos, na 13ª posição de uma lista de centenas de pilotos.
Apesar da má fama injusta de lerdo e azarado, Rubinho ganhou o público brasileiro por seu carisma e sua simpatia, além de ser um piloto muito respeitado no exterior. Pode-se dizer que, para os apaixonados por automobilismo, Rubens Barrichello é um grande campeão moral e será sempre lembrado por sua conduta honesta e jeito arrojado de dirigir.
Agradecimentos especiais pelo texto de Rebeca Pinheiro
Grandes Prêmios323 | Pontos na Carreira658 |
Poles14 | Anos de F119 |
Pódios68 | Entrada na F11993 (Gp da Africa do Sul) |
Vitórias 11 | Pior momento da carreiraImola 1994 |
Titulos0 | Pilotos FavoritosAyrton Senna |
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